domingo

Eu...


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada...a dolorida...


Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

( Florbela Espanca)



Imagem: Internet

5 comentários:

Marias disse...

Coloquei este soneto em homenagem a todas as mulheres que nunca foram compreeendidas e que são consecutivamente vitimas de violência fisica e psiquica.

Maria disse...

E quantas vezes a violência psíquica é mais traumatizante do que a física.....

Bom domingo para ti (e filhota)
Beijos

rosa dourada/ondina azul disse...

Bela escolha.
Adoro a poesia de Florbela, mas ela sempre foi incompreendida.

Boa semana,
Beijinho,

Marias disse...

rosa dourada/ondina azul

Foi incompreendida, escreveu o sofrimento, a solidão e o desencanto...
...Escreveu sem tabús e para a época os tabús não eram aceites...antecipa o movimento de emancipação literária da mulher e numa sociedade machista foi até declarada inimiga do estado novo.

Para mim foi uma grande poetisa e também vitima de violências(há muitas formas de violência) desde que nasceu... batizaram-na como filha de pai incógnito e apesar de após a morte da sua mãe ir viver com o pai e madrasta, este só a reconheceu 19 anos após a sua morte(suícidio).

...como não se pode perceber o seu sofrimento, nunca foi feliz e só pedia para o ser(terá sido no infinito?)...

Bom fim de semana para ti também.
Bjs

Marias disse...

maria
Concordo plenamente!...

Obrigado por te lembrares da minha filhota...é o meu tesouro.

bjs