segunda-feira

Ausência



Faz frio lá fora!

O vento suão

entra pelas frestas

da janela envelhecida

Doem-me os ossos já gastos

pelo gelo da tua ausência

Choras por mim - disseram-me

A cada dia que passa

procuras-me por entre a multidão

escreves-me cartas de amor

que ainda não li

cantas  serenatas,

à janela do meu quarto

vagueias pela noite dentro,

à procura de mim...

E eu aqui à tua espera!...

** M. M.**

sexta-feira

RENÚNCIA


E o pássaro de fogo
fez rumo ao infinito,
sujeito à força rude do destino.
Sustinha a ânsia imensa de gritar
a dor tão grande,
que anula a própria dor
sentida...
Nunca mais seria o mesmo!
O sonho inatingível,
renascendo sempre,
misturava dias e ilusões sem vida
no rosto amargo,
mascarado em riso,
pois, para alcançar,
o preço era esquecer o paraíso.

(Luis Rosa in, Poemas de Amar e Pensar um Pouco)

quarta-feira

O Sonho


Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.


(Sebastião da Gama in, Pelo Sonho é que Vamos)

domingo

Para Sempre



Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

 
(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira

Gosto de te pensar!...



Os primeiros raios de sol
aquecem-me o corpo
moribundo
Parece que te sinto,
suavemente,
a deslizar sobre o corpo que habito
num gesto de ternura e paixão

Vejo-te em todos os recantos de mim
como dádiva divina
como se as ondas do mar
que agora me molham os pés
lavassem tudo o que enegrece a minha alma
para que eu acreditasse, enfim,
que alguém me amava

Uma gaivota grita o seu piar
e acordo do que julgo sonhar
mas tu... teimas em ficar
e guardo-te novamente
nos recônditos do meu ser
para enganar o tempo
que teima em levar-te de mim

Penso no que és para mim
e no que fui para ti
afogo-me no que poderia ter feito
e no pensamento
de que tudo podia ter sido diferente
e num gesto repetido
deixo-me ficar só
a respirar lentamente
e sem me dar conta
perco as asas que me deste...


Foto: Internet

terça-feira

Sem título



Os últimos raios de Sol iluminam-me o rosto.
As ondas batem nas rochas em ritmo cadenciado.
O rebentamento faz-se ao longe e a espuma vem rodopiando até à margem embalando-me naquele ritmo musical. As ondas parecem dançar em compasso de valsa.
Olho extasiada, eternizando o momento.
Um vento sopra de mansinho, acaricias-me a face e sussurras-me ao ouvido: «Estou aqui, amor!...»
Estendo a mão para sentir as formas do teu rosto. Afago-te a face e vejo-me reflectida nos teus olhos cor de mar. Suavemente tocas a minha mão, puxas-me para ti, envolves-me nos teus fortes e longos braços e levas-me em direcção ao infinito...

sábado

Vou hibernar...



Sinto um enorme cansaço!...

Sonho-te


Dispo-me de mim
passeias-te pelo meu corpo
na imensidão das ondas
do mar infinitto
calmas e revoltas
contradição de nós próprios

E num vaivém
constante e melodioso
afagas-me o desejo
e... Sonho-te!

Foto: Marias

quinta-feira

Mito

O ser e o não ser
correm sobre a linha do destino
rasgando o infinito!
Sabe-se lá se têm um fim,
ou se o que julgo ser
será apenas mito?

Homem não é tempo, nem figura,
apenas é projecto,
condenado à procura,
sabendo apenas que é, neste momento,
e o mais
como um surgir perene e incompleto,
se esfuma sempre informe na lonjura.

Alguém o fez, centro de tudo e nada,
condenado a crescer,
e a abominar o apagamento...
No cais
de uma viagem de surpresas,
memórias de uma crença adivinhada,
véstia de um cruel convencimento,
fazem a razão suposta do viver
ou do morrer...

Minha pobre razão ensoberbada,
tão certa de incertezas,
que farei dos dias meus?!
De um lado alienação e esquecimento,
do outro lado Deus!

(Luís Rosa, in Poemas de Amar e Pensar um Pouco)

Imagem: Google