Que sabes tu
onde se acaba o homem
e começa o infinito?
Que sabes tu
onde termina o ser
e começa a eternidade?
Olhei no fundo o olhar do sol
questionando a luz!
Fitei o horizonte
e perguntei ao espaço
se estava aquém se além de mim!
Agarrei a vida,
sacudi-lhe o tronco,
para ver se era real se era fingida.
Perguntei ao sabedor,
inquiri o analfabeto,
do segredo da vida e do pensar.
Rasguei a fé e o procurar...
e achei apenas
as grades da prisão de um ser inquieto!
Que sabes tu
do que está para além do olhar
e da linguagem?
Se é força, amor,
se ilusão e aragem?
Que sabes tu
se és o que és,
ou o que pareces?
Se és ser em viagem de formas sucessivas,
ou fútil acendalha que se apaga,
no acabar da vida?
Quebrei um grito ansioso contra a noite.
Rasguei o livro do questionar constante.
Fiz um hino à incerteza,
e uma orgia à loucura.
Escrevi a letras de raiva
a vontade de ousar;
e achei que não há sentido em ser
e acabar.
Por isso,
inventei um Deus!
Fiz do pensar a construção de um mito.
Plantei uma ideia sobre o nada.
Levei-a para além do espaço
e pelo dentro do homem todo
e chamei-lhe eternidade!
Achei que tinha o eco do infinito
e o rasto da verdade...
Agora o desespero adormeceu;
como se, de além da vida,
ouvisse uma suspeita e uma saudade
e o mundo é todo meu.
(Luís Rosa in, Poemas de Amar e Pensar um Pouco)